domingo, 12 de janeiro de 2014

Liberace ilumina a festa do Globo de Ouro


Contemplado com o Globo de Ouro de melhor telefilme na cerimônia do Globo de Ouro, o genial “Behind the candelabra” chegou ao Brasil como "Minha vida com Liberace" pouco antes de brilhar na festa do Emmy, o Oscar da TV americana, onde ganhou 11 prêmios, A  reconstituição da história de amor entre o pianista Wladziu Valentino Liberace (1919-1987) e o jovem Scott Thorson começou sua carreira em maio, na telona do Festival de Cannes. Responsável por tirar o projeto do papel, com o aporte financeiro da HBO, o cineasta Steven Soderbergh conversou conosco por telefone, explicando que desenvolveu o longa-metragem como uma homenagem a um dos mais extravagantes ícones do showbiz nos EUA. O filme também é uma celebração do parque televisivo de seu país.

— Está havendo uma migração gradual de talentos para a TV, que hoje vive uma segunda Era de Ouro em relação à efervescência do fim dos anos 1990, com “Seinfeld” e “A família Soprano”. Hoje, fala-se mais de uma série como “House of cards” do que de muitos filmes — diz Soderbergh, que  tratou a produção como seu filme de despedida.

Um dos mais prolíficos realizadores de Hollywood, chegando a lançar dois longas por ano, o diretor de “Traffic” (2000) vai entrar em período sabático, sem data para regressar ao cinema.

— Saio de cena por excesso de trabalho e desejo de uma pausa — diz o diretor, que, embora tenha sido escalado para rodar o piloto de uma série sobre médicos com Clive Owen, chamada “The knick”, não quer saber de fazer cinema tão cedo. — Se “Behind the candelabra” for o meu canto de cisne como realizador, eu sairei de cena orgulhoso do meu trabalho, pois essa história, que nada mais é do que um grande romance, chega num momento de mudança cultural no qual as pessoas discutem os direitos civis da união homossexual. Se eu tiver que voltar ao audiovisual logo, o retorno será pela televisão.

Soderbergh atribui seu apreço pela TV ao engessamento dos modelos do cinema. Programado para entrar na grade da HBO no dia 19, às 22h, “Behind the candelabra” foi idealizado inicialmente como um projeto cinematográfico, mas acabou rejeitado por vários estúdios.

— Recebi muita recusa sob o argumento de o projeto parecer “gay demais”. No fundo, os estúdios não querem se ocupar com pequenas produções. Há uma tendência no cinema americano, crescente desde o 11 de Setembro, de apostar no escapismo. Existe uma sensação vigente de que as pessoas vão ao cinema para se despreocuparem. Com isso, a teledramaturgia acabou preenchendo as brechas de quem carece de entretenimento adulto, caso de “Behind the candelabra”, que pode parecer um óvni no cenário atual do nosso circuito exibidor — diz o diretor.

Soderbergh foi revelado em 1989 com a Palma de Ouro dada a “Sexo, mentiras e videotape”, seu primeiro longa. Na trama de “Behind the candelabra”, o cineasta, hoje com 50 anos, narra como Liberace (vivido por Michael Douglas) marcou o imaginário cultural pop americano durante 40 anos, com um talento ao teclado festejado por críticos.

— Liberace foi uma espécie de ancestral de Elton John e Lady Gaga — disse Douglas em Cannes. — Pouco antes de morrer (de Aids), ele tinha shows para fazer no Radio City Music Hall, em Nova York, com uma fila de espera de até três semanas por um ingresso.

O que mais fascinava os fãs de Liberace, de quem ele escondia sua homossexualidade, era o fato de fazer da extravagância (em trajes, perucas e gestos) uma assinatura estética. Ao largo do sucesso, ele namorou vários homens até se apaixonar por Scott Thorson (papel de Matt Damon), hoje um presidiário, com quem viveu de 1977 a 1982.

— Tenho a sensação de que cada “não” que ouvi se deve à sensação de que só o público gay poderia se interessar por esta história. Era impossível gastar cerca de US$ 25 milhões em uma produção como essa sem saber qual seria seu público-alvo — conta o diretor, que foi apresentado à figura de Liberace ainda menino, pela TV, vendo, no colo do pai, o programa de concertos de piano do artista. — Ali, eu tinha o prazer de ver um produto audiovisual com o sentimento de descoberta. Perdi essa sensação de tanto filmar. Paro com o cinema pois preciso de tempo para pensar e voltar a ser só um espectador.

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