Produzido por Brad Pitt e encarado como o favorito ao Oscar
2014, "12 anos de escravidão" ("Twelve years a slave"),
longa de Steve McQueen sobre um negro livre capturado por escravagistas á
revelia da Lei, conquistou o Globo de Ouro de melhor filme dramático. É a
láurea mais cobiçada da cerimônia, seguida pelo prêmio de melhor filme de
comédia/ musical, dado ao thriller "A trapaça" ('American
hustler").
Xará do astro de “Bullit” (1968), Steve McQueen, artista
plástico e cineasta britânico de 42 anos, enxerga o corpo humano como um
templo. É a partir dele que se chega à transcendência — incluindo a estética.
Tem sido assim desde 1993, quando McQueen levou a galerias e museus “Bear”,
experiência em 16mm no qual dois negros nus (ele era um deles) se encaram e se
desafiam frente a uma câmera que propõe um jogo sensorial a partir de músculos
e olhares.
Em seus filmes e vídeos, a dramaturgia passa pela pele: seus
protagonistas emagrecem, salivam, expõem escárias e hematomas, sangram,
definham. Ao narrar um episódio envolvendo uma greve de fome feita por soldados
do IRA em “Hunger”, longa-metragem pelo qual conquistou o prêmio da mostra Un
Certain Regard do Festival de Cannes de 2008, McQueen submeteu seus personagens
à sujeira, à escatologia, à privação. Para o cineasta, toda a violência que se
dá dentro deles, política ou existencial, é externalizada pelo físico. E ele
privilegia o físico masculino numa ponte plástica entre o fetichismo político
do Kenneth Anger de “Scorpio rising” (1964) e as vísceras do David Cronenberg de
“Videodrome” (1983).
Essa estetização do corpo parece ter alcançado a dimensão de
denúncia em "12 anos de escravidão", que, apesar de prejudicado pela
falta de carisma de seu protagonista, Chiwetel Ejiofor, assombra pela
vitalidade de sua crítica a corrupção legal. O desempenho de Michael
Fassbender, ator-xodó do cineasta, como um senhor de escravos, a fotografia de
Sean Bobbitt e a música Hans Zimmer justificam a grandeza da narrativa.
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