domingo, 12 de janeiro de 2014

'12 anos de escravidão' ganha o Globo de Ouro

Produzido por Brad Pitt e encarado como o favorito ao Oscar 2014, "12 anos de escravidão" ("Twelve years a slave"), longa de Steve McQueen sobre um negro livre capturado por escravagistas á revelia da Lei, conquistou o Globo de Ouro de melhor filme dramático. É a láurea mais cobiçada da cerimônia, seguida pelo prêmio de melhor filme de comédia/ musical, dado ao thriller "A trapaça" ('American hustler").  




Xará do astro de “Bullit” (1968), Steve McQueen, artista plástico e cineasta britânico de 42 anos, enxerga o corpo humano como um templo. É a partir dele que se chega à transcendência — incluindo a estética. Tem sido assim desde 1993, quando McQueen levou a galerias e museus “Bear”, experiência em 16mm no qual dois negros nus (ele era um deles) se encaram e se desafiam frente a uma câmera que propõe um jogo sensorial a partir de músculos e olhares.
  
Em seus filmes e vídeos, a dramaturgia passa pela pele: seus protagonistas emagrecem, salivam, expõem escárias e hematomas, sangram, definham. Ao narrar um episódio envolvendo uma greve de fome feita por soldados do IRA em “Hunger”, longa-metragem pelo qual conquistou o prêmio da mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes de 2008, McQueen submeteu seus personagens à sujeira, à escatologia, à privação. Para o cineasta, toda a violência que se dá dentro deles, política ou existencial, é externalizada pelo físico. E ele privilegia o físico masculino numa ponte plástica entre o fetichismo político do Kenneth Anger de “Scorpio rising” (1964) e as vísceras do David Cronenberg de “Videodrome” (1983).

Essa estetização do corpo parece ter alcançado a dimensão de denúncia em "12 anos de escravidão", que, apesar de prejudicado pela falta de carisma de seu protagonista, Chiwetel Ejiofor, assombra pela vitalidade de sua crítica a corrupção legal. O desempenho de Michael Fassbender, ator-xodó do cineasta, como um senhor de escravos, a fotografia de Sean Bobbitt e a música Hans Zimmer justificam a grandeza da narrativa.

 Com estreia no Brasil prevista para 28 de fevereiro, "12 anos de escravidão" só ganhou um Globo dos sete a que concorria. O mesmo ocorreu em 2006 com "Babel" e em 2008 com "Desejo e reparação". Ambos foram esnobados na festa da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.

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